Zé Luiz, o Zelo, vida curta que fez história
>>> Graças ao dileto amigo Emerson Matheus conseguimos resgatar essa publicação do Diário de SBO de maio de 1990, quando registramos o passamento do amigo Zé Luiz, o Zelo, moço humilde que teve uma bonita história. Ele chegou a ser vereador pelo MDB, e era substituído nos afastamentos pelo pai do Emerson, o Alvaro (Sapinho) Matheus, figura emblemática do futebol do Internacional, da Contabilidade, de tantos amigos do esporte, e mesmo do rádio da SBO. Zelo foi um amigo muito próximo na juventude; deixo aqui, abaixo, uma homenagem a ele.
Zé Luiz, o Zelo, vida curta que fez história
- Celso Luis Gagliardo –
O último sábado de abril de 1990 foi marcado, para todos nós, pela triste notícia do falecimento do barbarense José Luiz Gomes da Silva, popularmente conhecido como Zelo.
Conhecemo-nos desde muito cedo. Ainda garotos, escapávamos de casa para as folias de crianças. Eu, domado por uma mãe de pulso firme, logo fui levado ao trabalho na tipografia, ajudando na confecção de um jornal semanal da época, sob a cartilha do ainda lembrado líder político Dirceu Dias Carneiro. Já o Zelo, desde garoto, adorava a política. Lembro-me bem de um de seus passatempos na infância: pintar faixas para campanhas políticas e preparar o som dos alto-falantes.
O Zé Luiz — como era chamado em casa —, entre vários irmãos, também era apaixonado por esportes. Muitas vezes fomos a pé ou de bicicleta até a Usina Santa Bárbara para torcer pelo CAUSB, embora ele guardasse em seu coração uma simpatia especial pela A.E. Internacional.
No nosso grupinho de rua estavam nomes que a memória, sempre injusta, quase apaga: Zezinho Laudissi, os Baptistas, Xisto, Valdir Carrapato, Laércio, Marcos, Danilo, Mondoni, os Heleno, Dárcio e Cláudio Mantovani, entre tantos outros. Quantas viagens sobre caminhões para jogar futebol nos campos da cidade e na zona rural do município. O Zelo estava sempre lá, incentivando todos, com seu jeito calmo, pensador e reflexivo. Não era de falar demais; preferia ouvir — e, por isso mesmo, era um amigo certo.
A política era seu prato preferido. Quantas vezes ficamos, ele, Adail, Carlão, Toninho Furlan, eu e outros, até de madrugada, discutindo as nuances e bastidores do cenário político. Zelo queria entender, influenciar, aprender — sem a preocupação de recompensa financeira, como infelizmente é comum hoje na administração pública. Era do tipo que via a política como vocação e prazer, não como oportunidade de vantagens. Jamais reclamaria na Justiça valores extras de salário como vereador, como hoje acontece.
Foi suplente de vereador de 1973 a 1976 e, depois, eleito com boa votação para os mandatos de 1977-1982 e 1983-1988. Chegou a ser candidato a Deputado Estadual, alcançando boa votação em Santa Bárbara d’Oeste e região. Em 1990, ainda ocupava vaga como suplente na Câmara Municipal.
Tinha uma tendência à oposição constante e, às vezes, impertinente. Partiu deixando muitos amigos e admiradores — e, naturalmente, alguns poucos adversários duros, até impiedosos, que também sentiram o peso de sua ação.
Na vida profissional, o Zelo tentou de tudo. Alguém citou que chegou a cortar cana, mas eu me lembro mesmo é de suas andanças como vendedor de livros — e de algumas vezes em que o acompanhei, meio sem jeito. Sempre buscou empreender, ser dono do próprio destino. Teve empresa de transporte de cargas e, depois, atuou no ramo de pneus, o que exigia viagens constantes. Gostava de enfrentar estradas longas, fosse por trabalho, por política, pela igreja ou por lazer.
Lembro também de sua dedicação aos estudos. Formou-se contador e, comigo, chegou a iniciar a faculdade de Direito numa cidade próxima. Era audacioso, guerreiro.
Foi assim que vimos o Zé Luiz, o querido Zelo, crescer, viver e se integrar à comunidade. Um rapaz humilde, que nos deixou na juventude de seus 39 anos, para tristeza de tantos que o conheceram — especialmente da esposa Magda e dos três filhos, Neto, Plínio e Daniel, que ele adorava. Testemunhei esse casamento e sei o quanto essa união significou para ele.
Não estive em seu funeral. A vida atribulada nos afastou. Sua partida nos deixou profundamente tristes, mas também com a certeza de que deixou um legado de amizade e amor desinteressado à causa pública. Estas linhas são expressão de solidariedade à família, especialmente à Magda e à dona Dulcília, esposa e mãe, abaladas pelo trágico acidente automobilístico que nos tirou o Zé Luiz.
Zelo, sei que você viveu pouco, mas viveu intensamente. Serviu ao espírito público, realizou o que desejava e, como reconhecimento - à época do prefeito José Maria de Araújo Junior - dá nome à Escola de Educação Infantil EMEFEI Vereador José Luiz Gomes da Silva, no Conjunto dos Trabalhadores, em sua amada Santa Bárbara d’Oeste.
Zelo fez o que queria. Foi feliz.
- Publicado no Diário, em 19 de maio de 1990. -
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