Cidades crescem e suas áreas centrais se esvaziam
Cidades
crescem e suas áreas centrais se esvaziam
>>> Problema urbano dos últimos tempos, o esvaziamento das áreas centrais das cidades e seus efeitos deletérios tem levado os estudiosos a muitas propostas e experimentos, com dificuldades para bons resultados. Para onde caminha a zona central de sua cidade?
- Celso Luís Gagliardo -
Muitos,
especialmente os da geração mais madura, tem especial carinho pela região
central de suas cidades, áreas nobres onde normalmente se concentram Igrejas,
bancos, comércio, prestadores de serviço e órgãos públicos.
Além desse
aparato para o bem viver, usualmente há também a praça pública, com áreas para passeio
e descanso, árvores, bancos e coberturas leves, passarelas, equipamentos de
lazer. Nalgumas cidades ainda persistem a icônica Fonte Luminosa, tradição comum
no passado, atração com o esguichar de água para o alto, contraste de sons e
colorido das luzes.
O tempo corre
e as mudanças acontecem naturalmente. A própria vegetação não resiste a tantos
anos e necessita de renovação. Todo homem público sabe que é delicado o
processo de revitalização das praças, é mexer num vespeiro sensível pois alterar
a sua configuração original gera reações inesperadas, dado que cada um dos
munícipes tem uma visão particular face ao carrossel de emoções ali absorvidas.
Uns gostam do resultado, outros nem tanto e ficam reclamando para sempre.
Bem. Esse o
lado mais suave. Pior é a degradação que muitas áreas centrais das nossas cidades
vêm sofrendo. Principalmente de cidades médias ou grandes.
Um fenômeno
que vem com o crescimento das cidades e de seus núcleos centrais. O próprio
comércio acaba migrando aos poucos para outras regiões e bairros visando à
proximidade dos consumidores. Os imóveis se valorizam muito, a vida ali fica
cara para aluguéis ou aquisições, sem contar que existe outra condicionante forte
nalgumas urbes, que são os Shoppings, centros de compras fechados com área de lazer
e cinema, ar condicionado, gastronomia, segurança, estacionamento, atraindo
consumidores e visitantes em geral.
No centro o
trânsito aumenta e fica difícil encontrar-se uma vaga. E vem o Poder Público e
tenta resolver o problema estabelecendo as zonas azuis, onde há o pagamento por
tempo estacionado, para com isso incentivar o estacionamento rotativo e não
aquele estático, como o de gente que vai trabalhar e deixa seu veículo parado o
dia todo na rua. Abrem-se vagas, mas vêm as críticas pelas despesas geradas. E
mais, alguns comerciantes e prestadores de serviço acabam sentindo a perda de
clientes que, para não pagarem para estacionar, procuram outras fontes para seu
suprimento.
E assim, os
cidadãos se afastam mais das áreas centrais. Que vão se tornando incrivelmente
obsoletas, com placas de Aluga-se ou Passa-se o ponto. E a degradação aumenta
com a insegurança e a chegada de pessoas em situação de rua que acabam tomando
conta do espaço nalguns casos, problemas sociais que os Governos não conseguem
dar conta.
A cidade de São
Paulo, com sua grandiosidade, tem o fenômeno estampado e ampliado tristemente
com a ”cracolândia”, ponto praticamente dominado por centenas de pessoas que
vivem nas ruas e viciados em drogas. No interior, Campinas sentiu claramente o
fenômeno e busca soluções para reverter o quadro. Americana também vive essa
mesma situação de esvaziamento, com medidas sendo tomadas para gerar a retomada
do fluxo de pessoas e consumidores. Piracicaba também viveu o afastamento do
seu povo do núcleo central, gerando preocupações e estudos de projetos de
revitalização.
Santa
Bárbara tem o fenômeno da malha urbana composta por “duas cidades” praticamente;
a cidade antiga e sua região central bem definida, e a “nova cidade” formada
pelos bairros da zona leste que se desenvolveram mais que os da área antiga,
nas últimas décadas, sem um ponto central de convergência. Ainda assim o seu ponto
central antigo e revitalizado é relativamente tranquilo, embora sem o fluxo de
outrora quando os moradores procuravam a área central e a praça para múltiplas
atividades e também para a convivência aos fins de semana e datas festivas.
Cidades
menores parecem sentir com menor intensidade o enfraquecimento dos seus núcleos
centrais. Mas exigem igual atenção de seus governantes para essa situação, como
por exemplo São Pedro, onde o comércio se concentra fora do eixo central. São novos
desenhos urbanos que vão se estabelecendo e desafiam os gestores cobrando
criatividade para compensar a inevitável dança na concentração dos negócios que
atraem mais gente.
Definitivamente
os centros das cidades não são os mesmos. A descentralização é visível e os
núcleos estão cada vez mais caminhando para as profundezas da memória afetiva, lembranças
de espaços de transações comerciais de subsistência, da boa convivência social,
da paquera organizada nos pontos de encontro que selaram muitas relações,
uniram casais que se multiplicaram em novas famílias.
Muito triste
ver o centro de uma cidade esvaziado e macambúzio, às vezes com sujidades e
descuidos visíveis. O morador local passa, observa e sente uma fisgada no
coração pois a praça sempre foi para ele o seu “templo”. O ex-galã Ronnie Von,
ainda bonitão entre nós, bem retratou esse carinho numa antiga música de
sucesso: “A gente vai crescendo, vai crescendo e o tempo passa e nunca esquece
a felicidade que encontrou, sempre eu vou lembrar do nosso banco lá da praça, foi
lá que começou o nosso amor. A mesma praça, o mesmo banco as mesmas flores, o
mesmo jardim, tudo é igual, mas estou triste porque não tenho você perto de mim”.
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