Há vagas... e também desempregados
Há vagas e também desempregados
>>> Faixas, cartazes, panfletos, dia do Emprego.... tudo para preencher vagas. E há muitos desempregados. O que está acontecendo no mundo das relações de trabalho?
- Celso Gagliardo –
Dia desses
falei com o amigo e conselheiro Hermínio Scachetti, das antigas de Recursos Humanos.
Discutimos sobre mão de obra, perfis, vagas e cenário. Ele mostrou estudos
recentes focando o assunto, e os impactos na liderança.
É comum
ouvirmos atualmente empreendedores desanimados com o negócio “por falta de mão
de obra”. E, paradoxalmente, os indicadores apontam que ainda há um
significativo índice de desemprego no País.
Quando
criança recebíamos recomendações dos pais para sermos obedientes no trabalho,
não faltar, não atrasar, não ser mal educado com superiores. E quando a gente
iniciava numa profissão dava graças a Deus e lutava pela sua manutenção. A
cultura da relação patrão-empregado levava a uma certa cordialidade. A gestão
do trabalho era facilitada. Aqueles que pulavam de um emprego para outro não
eram bem vistos, a instabilidade os denunciava e as portas iam se fechando.
Hoje vivemos
um mundo novo. Um agente de empresa de RH disse-nos que ao ligar para o
candidato uma das primeiras perguntas que surge é “é para trabalho online ou presencial?”. Os
jovens candidatos, mesmo aqueles para treinamento, são seletivos. Questionam,
refutam trabalhos por questões de jornada. Parece que não há preocupação em
ficar desempregado, talvez até pelos programas sociais do Governo.
Pedreiros e
outros artífices, abarrotados de pedidos, dizem que deixaram de manter equipes
por falta de mão de obra, “ninguém mais quer aprender nosso ofício, pegar no
pesado, sujo, trabalhar no sol...”. Conquanto há desempregados, existem
empresas com vagas sem conseguir preenchê-las. Falta, também, gente disponível
e qualificada e isso é outro entrave para as organizações.
A geração
atual que se insere no trabalho aprende com facilidade. Mas não aceita certas
condições. Querem aliar o trabalho a outras condicionantes de valor às suas
vidas. E isso não é ruim, mas dificulta o trabalho das lideranças que precisam
se aprimorar em Inteligência Emocional para agir sob razão e não emoção,
praticando empatia seguidamente, com muita paciência e resiliência.
O que fazer?
Treinar incansavelmente, formar, colocar estagiários extra quadros nos
departamentos. O filtro que se forma acaba dando certo, mesmo que mais à frente
percamos o esforço pois as empresas também formam para o mercado que, no
conjunto, se beneficia. E zelar pelo bom ambiente de trabalho, educação
executiva, pelos estilos de liderança - ouvir, dialogar, manter canais abertos
para que as decisões que impactam a gestão das pessoas sejam acertadas. Ouvir é
um exercício de humildade, pois quase sempre o ego vai à frente e dificulta
esse momento rico para empregador e empregado.
Quem mais
sofre são empresas que atuam em regimes estendidos, finais de semana, à noite,
comércio, serviços cujo custo da mão de obra impacta mais nos resultados. E
pagam em torno do piso das categorias. Empresas que se utilizam de mão de obra
especializada, com melhor remuneração, conseguem maior estabilidade nos seus
quadros, embora sentindo também a turbulência destes tempos.
Em síntese,
podemos concluir que há uma força de trabalho jovem questionadora, impulsiva,
que espera recompensa rápida. E que não aceita qualquer oportunidade. Há,
também, desempregados sem a qualificação que as vagas exigem, e isso é um
problema de formação que enfrentamos há muitos anos. Alguns poucos apelam para
aposentados, pessoas maduras com experiência no trabalho e na vida.
O mundo trabalhista
vive uma efervescência. É preciso investir na educação continuada, com
políticas públicas e privadas. E, dentro
das organizações, a tarefa é gerar atratividade pela gestão e políticas para
conviver com esse quadro, ao menor custo possível. E muito foco na oxigenação
das lideranças. Quem viver, verá...
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O autor é profissional de Recursos Humanos -
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