Nos tempos do Jornal tipográfico
>>> Nesta leve crônica, um pouco do romântico e duro trabalho de fazer jornal periódico e tipográfico (letra a letra, montada).
Início de vida profissional, Jornal do Povo e depois Jornal D'Oeste, em Santa Bárbara. Com muita luta e honra; e numa ocasião falha grave de revisão que agitou. Nos tempos do jornal tipográfico
- Celso Luís Gagliardo -
Em uma reunião da família Sachetto, à beira do rio Atibaia, divisa com Jaguariúna, conheci a professora Raquel, de jornalismo, que hoje vive em Brasília. Para sua surpresa, contei sobre os tempos duros — e fascinantes — da composição manual dos jornais, no estilo tipográfico que Gutenberg inventou.
O tipógrafo alinhava letra por letra em uma peça chamada componedor, ajustando colunas e formando palavras com tipos móveis, mais baixos quando serviam de espaço. Assim se construíam as linhas.
Depois, essa maçaroca de letrinhas era levada à bolandeira, para a diagramação. Ali se posicionavam textos, títulos, anúncios e raros clichês — fotografias gravadas em metal ou plástico — que serviriam de matriz para a impressão.
Era um verdadeiro trabalho de formiga, inimaginável na era digital: lento, artesanal, mas cheio de engenhosidade e de possibilidades criativas na apresentação visual.
Alguns jornais já contavam com a modernidade do Linotipo, que fundia linhas inteiras em chumbo. Mas, nos fins de semana, tudo ainda era feito à mão. Montar e desmontar o jornal era um labor hercúleo: cada tipo voltava à sua caixinha, letra por letra.
Aprendi muito “puxando linhas” escritas por mestres de boa pena — Alfredo R. Nogueira, Virgílio Pinto, Antonio Arruda Ribeiro, Francisco Pinhanelli Neto, Adail Ribeiro, entre outros. Foi assim que iniciei minha vida nas comunicações, em um tempo sem faculdades de jornalismo: éramos apenas práticos, provisionados.
E havia também os imprevistos. Um dia, já com o jornal impresso, percebi um erro grave: o nome do ex-prefeito Benedito Costa Machado aparecia com uma letra trocada. Foi um corre-corre. Reunimos colegas da tipografia, cada um com uma letrinha “C” na mão, carimbando sobre o erro para disfarçá-lo. No fim, o jornal saiu às ruas — e nós rimos muito do episódio.
Era vida dura, sim. Mas também uma cachaça gostosa, dessas que a gente nunca mais esquece.

Comentários