Nova forma de encarar o trabalho gera escassez de mão de obra


NOVA  FORMA  DE  ENCARAR  O  TRABALHO  GERANDO  ESCASSEZ ATÍPICA  DE  MÃO  DE  OBRA

>>>  Um fenômeno vem ocorrendo com a mão de obra e afeta os negócios, ou o ânimo para empreender. Há anos a situação vem se degradando e a razão é a esperança dos novos trabalhadores em ter vida autônoma, mais liberdade de ação, não ficar preso a jornadas longas e até em finais de semana. Reflexões para concordar, ou não. Aguardo sua opinião em comentários.

 

Nova forma de encarar o trabalho gera escassez atípica de mão de obra

                                                                                   - Celso L. Gagliardo -

O que vem ocorrendo no mundo da contratação de pessoas para o trabalho formal? Está muito comum ouvirmos de empregadores críticas à nova geração de profissionais, pelas dificuldades que enfrentam nas relações do trabalho, embora num País com desemprego.

Alguns, mais afoitos talvez, falam em desânimo com os negócios ou que evitarão novos investimentos dada à dificuldade para preencher os seus quadros e mesmo gerir o pessoal produtivamente.

O mundo das relações trabalhistas está alterado. Nos últimos tempos deixamos de contar com a mão de obra cordata ao conseguir emprego, para tempos de perguntas e questionamentos. Para quem não está preparado chega a ser atroz lidar com isso.

O que levou a esse estado? O que faz o jovem não se importar tanto em ficar sem o trabalho formal de carteira assinada? O que fez com que o jovem veja um anúncio de emprego e não mais se entusiasme pela oportunidade? Ele quer saber, não apenas das recompensas, salário, mas também e principalmente como será o trabalho, quais suas chances de crescimento em carreira, jornadas, horários e até o estilo da liderança.

Esses novos trabalhadores também estão preocupados com o que lhe faz sentido na vida, sonham com o trabalho autônomo, que lhe dê mais liberdade, e analisam se vale a pena ficar até às 22 horas de sábado ou domingo no posto de trabalho.

Anteriormente havia maior respeito às organizações, uma certa reverência pela concessão do emprego. Eu mesmo, do alto de meus 70 e poucos, ainda penso naquele senhor amigo que atendeu o pedido de mãe e me deu a primeira oportunidade de aprendizado, no período da tarde, pois eu ainda estava no ensino fundamental (Grupo Primário).

Hoje as relações são mais fluídicas, quase se evaporam. Os jovens são bombardeados desde cedo com informações que geram expectativas, aumentam a ansiedade e, assim, acabam atropelando os fatos. Há pressa em galgar postos maiores, e nas recompensas, em saber de direitos antes de conhecer bem os deveres. Noutros tempos o trabalhador era promovido por mérito somente depois de muito provar.

Essa afoiteza e interesses difusos dos trabalhadores de últimas safras tem levado as empresas a conviver com dificuldades de contratação, e principalmente com a rotatividade excessiva, que prejudica e custa caro. As relações esquentam, às vezes o funcionário começa a faltar sem justo motivo, e acaba saindo da empresa por iniciativa própria ou dela. Setores atacadistas são um exemplo vivo, mudando e agilizando as rotinas de contratação, participando de feirões de emprego e outras medidas emergenciais demandadas.

Lógico que as grandes companhias, que se utilizam de mão de obra especializada e consequentemente possuem faixas salariais mais atraentes sofrem bem menos, são formadoras de mão de obra, conseguem desenvolver internamente o que o mercado não supre.

Mas temos um nó a desatar nas relações trabalhistas. Os maiores empregadores, setores de comércio e prestação de serviços, estão atônitos, com dificuldades na contratação e fixação da mão de obra, um entra e sai constante. Muita gente não sabendo como lidar com tudo isso, e não é para menos. Ninguém garante que elevando os salários um quartil acima irá resolver as mazelas, além de onerar o valor da folha mais encargos, que nesses setores costuma ser bem representativo no conjunto do orçamento.

Uma saída que temos notado é o recrutamento da velha guarda, pessoas com mais de 50 ou aposentadas e com saúde, que estejam dispostas a retornar à lide. Setores como supermercados têm se utilizado desse expediente, mesclando o time com jovens, maduros e maduros+. Mas há preconceito, tabus a serem superados.

Por derradeiro, é preciso lembrar do contingente que não aceita, nem mesmo para início de carreira, posições subalternas, trabalhos operacionais. Reflexo dos tempos modernos, da tecnologia disponível e alguma proteção social do Governo. E quem vai fazer o trabalho mais duro? Ao ar livre, sol, em altura, com sujidades? Bem, não é só isso, o próprio servidor doméstico hoje está seletivo, o que elevou as diárias à casa de R$ 200,00, R$ 300,00.

O mundo mudou e é necessário coragem e habilidade. Os contratantes precisam aprender a conviver com as transformações usando a criatividade, paciência e resiliência. Parei há tempo com minha rotina nas relações entre capital e trabalho, e muito do que fiz ultimamente foi acalmar patrões nervosos com decepções pelas respostas de pessoas, ou seja, na falta de entrega. Embora isso se constitua em minoria, traz fortes reflexos internos.

Pois é, empregadores e os colegas das áreas de Recursos Humanos têm bons desafios pela frente. Sem dificuldades não tem graça!


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