Os bons papos nas rodas de café


Os bons papos nas rodas de café

>>>  Você já parou para analisar um grupo conversando entre xícaras e goles de um bom café? Gostosura plena. Ali a gente curte, conecta, trabalha, namora, enamora, faz amizades. Dedicado ao grupo de café "Amigos do Ademir", que nos deixou muito cedo. 

                                                                               - Celso L. Gagliardo –

Sou um observador contumaz a ponto de instigar alguns bem próximos por detalhes que, às vezes, capto. Procuro falar menos e observar mais, ver e compreender, analisar para consumo interno, mesmo que sem finalidade específica.

Um ambiente que me cativa de certa forma são as cafeterias. Estou me referindo àqueles cantinhos bem montados, com alguma decoração típica e ambiente aconchegante.

A propósito, falar hoje sobre café parece exibicionismo pela disparada do preço do grão e do pó no mercado. Espero que isso se normalize à realidade anterior, já que estamos num País de grande produção e consumo, com hábitos arraigados.

Na atual fase de vida pude aumentar a frequência nos cafés da vida para saborear uma xícara do expresso, sentir o aroma, degustá-lo bem quente e em deliciosos goles, quase sempre antecedido por uma dose de água que vai “zerar” o paladar, limpar as tais papilas gustativas.

Uma vez até ganhei participação num workshop promovido por uma rede de padarias, com a barista n. 1 do país. Aprendi um pouco sobre café, e olhe que há muita informação, variações em tipo e formas de preparação sendo mais recomendado o café gourmet e sem adição de açúcar.

Numa cafeteria há burburinho e calor humano de pessoas reunidas não apenas para saborear café. Aliás, o café é quase um pretexto.  Alguns querem espairecer. Outros fazem a leitura favorita em celulares e às vezes na delícia do papel, em publicações às vezes fornecidas pelo próprio estabelecimento. Ao redor de xícaras e pires firmam-se compromissos, negócios, promessas, até juras de amor. Discutem-se os mais variados assuntos, decide-se muita coisa ou quase nada; nalgumas cidades há grupos “boca maldita”, mix de café permeado com conversas, risos, fofocas e piadas.

Há empresas que querem empregados criativos e mais felizes. E colocam boas máquinas de café para um momento relax, porque há comprovação de que isso traz retorno. Especialistas asseguram que o ambiente de trabalho influencia diretamente os resultados.

Surpreende também a ocupação de espaços de café por pessoas a trabalho. Já vi até aula de inglês (é verdade!), e quase sempre vendedores fazendo seus contatos e reuniões com notebooks, iPads, celulares, fones ao ouvido. Há pessoas que nele marcam encontro para entrevistar candidatos de forma confidencial, eu mesmo fiz isso várias vezes.

Aqueles que usam esses espaços para trabalho devem, é lógico, consumir no local, uma contrapartida não negociada, mas óbvia. Ouvi num determinado estabelecimento que havia pessoas levando suas garrafas térmicas certamente para não gastar com o café ali servido, se esquecendo que o ambiente que lhe é oferecido tem o custo de aluguel, manutenção, impostos, móveis, energia até para os celulares, Internet com wi fi, funcionários etc.

Vivenciei uma vez a dura realidade do falecimento precoce do proprietário de um estabelecimento do gênero, vítima de incidente lamentável. O grupo que frequentava seu estabelecimento se fortaleceu e vai até hoje no mesmo local e horário, para bater papo, tomar água e café, alguns até saboreiam uns salgados. E o nome do grupo no whatsapp é Ademir, o da pessoa falecida. Homenagem e fidelidade que se mantém, tudo sob a aura de “vamos tomar um café”.  

Enfim, uma casa de café delimita um espaço gostoso, perfumado, democrático e feliz. Para a gente respirar, naqueles minutinhos ao menos, um pouco mais suavemente neste mundo conturbado – sem pensar no stress de metas, no relógio, em chefe chato. Há mais gente “tomando café” nos points, mesmo aqueles que não gostam tanto da bebida. Parece que, dali, saímos um ’cadin’ melhor.

   - celsogagliardo.blogspot.com

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