O duro momento de demitir o bom empregado

 



Demissão. O lado duro das relações de trabalho

                                                                                              - Celso Gagliardo -

As organizações em geral dependem de mão de obra, de gente para ocupar funções, cumprir operações e processos e atingir resultados, produzindo bens ou serviços. As contratações ocorrem em períodos de crescimento, quando a venda – por exemplo – suporta a produção sem causar custos elevados de estoque de produtos acabados.

Se o momento é negativo, baixa demanda, insegurança, as organizações tendem a desligar pessoas, pois seus quadros passam a ficar ociosos, ou caros demais em relação ao faturamento possível. Muitos justificam que tem que reduzir “a folha” para manter empregos mínimos, sem “quebrar” o negócio.

Demitir não é bom. O empreendedor chega a perder pessoas treinadas, preparadas para sua atividade e jamais vai conseguir recontratá-las. Nalguns casos é saneamento, onde há performance baixa e má vontade para forçar o desligamento, receber Aviso Prévio, FGTS, etc.

O tempo de casa gera vínculos indissolúveis entre superiores e subordinados, e entre os pares, colegas, e por isso desligamentos afetam o clima interno, com impacto emocional.

Por essa razão, orientadores da área de Recursos Humanos, RHs, recomendam desligar as pessoas de uma só vez, num pacote doloroso, como para tomar remédio amargo. Há um forte impacto inicial, mas como o tempo cura quase tudo a ferida vai se cicatrizando, e vida segue.

Mas nem sempre isso é possível. As organizações dependem da força de trabalho e têm que ajustar o negócio à nova situação de quadro enxuto.  Reduzir gente exige adequações internas, às vezes até sobra mais trabalho para quem fica. Noutras, a própria organização não tem recursos para desligar todos os elegíveis ao mesmo tempo, pois nas rescisões há custos extras como aviso prévio, férias proporcionais e vencida, multa de Fundo de Garantia, chegando a atingir um total em torno de 4 a 6 vezes o salário contratual de cada desligado, ou mais.

Romper vínculos empregatícios foi muito doloroso. O trabalho representa para muitos não apenas o sustento da família, mas também realização pessoal. Hoje sentimos que as relações são mais tênues e realistas, mas ter um crachá no peito ainda é motivo de orgulho, alia o lado profissional ao pessoal, ajuda até a dar sentido à vida para muitos. Prova disso é tanta gente com tempo e condições para aposentadoria que continua na ativa, sob argumento de que se parar a vida perde a graça, um começo do fim.

O tema ficou evidenciado pelos cortes que a Rede Globo fez, aos poucos, ou seja, contrariamente ao recomendado, desligando comunicadores e técnicos conhecidos pelo país afora, com 10, 20, 30 ou mais anos de empresa. Conforme uma fonte ao site de notícias Uol, à época, “não existe um sorriso na TV Globo hoje. Muitas pessoas ficam chorando nas áreas comuns, no café, em pequenas rodas de colegas.” Isso é por conta da emoção de vínculos rompidos e pela preocupação “do que poderá ocorrer comigo, amanhã”. Insegurança acumulada à tristeza.

Convivi com crises econômicas que levaram à redução drástica nos quadros de pessoal. Não é fácil. Há lideranças – Diretores, Gerentes, Supervisores – que preferem fugir do momento da comunicação, alguns até viajam delegando ao departamento de Recursos Humanos a delicada tarefa. Outros cumprem a missão profissionalmente, comunicam e explicam sobre a decisão, mesmo sabendo que uma hora poderão ter o mesmo destino.

Enfim, por trás de toda a cortina de racionalidade, regras e processos bem definidos há pessoas nas organizações, corações pulsam, sonhos são acalentados, amizades construídas, planos, projetos, carreiras são impulsionadas ou ceifadas, de uma hora para outra.

Mesmo que para apenas atenuar o impacto, é preciso desligar com humanidade e sem hipocrisia, e toda a cautela é bem-vinda nessas inevitáveis horas amargas, de baixa, de separações. Há empresas que inclusive treinam seus gestores para esse momento por vezes muito tenso.

 

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