Paparicando a cidade querida, aos 206 anos

 



Paparicando a Santa Bárbara querida, 

quando chegou aos 206

                                                                                              - Celso Gagliardo -


Chegou dezembro, e a gente reflete que passou rápido mais um ano. Já vem aí a data do Nascimento maior, com Papai Noel e tudo, enfeites e luzes para mexer com nossas emoções e passar uma mensagem renovadora, de incansável esperança de um mundo melhor, cristão e fraterno, que é tudo o que necessitamos nestes duros tempos de frieza nas relações humanas.

Em dezembro também lembramos da Santa Bárbara, essa nossa bela Santinha protetora de raios e tempestades que cada vez mais nos assolam, a madroeira (lembrando palavras do Padre D´Elboux) de Santa Bárbara d`Oeste.

Na data religiosa, respeitada com feriado em 4 de Dezembro, serão comemorados 206 anos de fundação da cidade, que teve o impulso inicial de uma viúva corajosa, dona Margarida, que deixou Santos para investir numa sesmaria em nossa região, e ao adquirir um engenho da família Toledo (conforme o historiador A. Carlos Angolini). Devota de Santa Bárbara, ergueu no atual centro da cidade uma capela daí o nome da cidade.

A mocidade que perambula hoje pela nossa Santa Bárbara não imagina a cidade de décadas passadas, poucos veículos, ruas de paralelepípedo e de terra, população pequena, muitas bicicletas e veículos apenas eventuais. Quase todo mundo se conhecia, os papos rolavam à solta nas ruas, praças, nos portões das casas, e sentados na calçada.

A cidade tinha sustentação principalmente em tecelagens, nas empresas Romi, Sans e nas Usinas de Açúcar, que chegaram a quatro: Santa Bárbara, Furlan, Azanha e Cillo. Havia um ramal rodoviário ativo, que ajudava no escoamento da produção industrial. O futebol era quente, houve tempo de quatro clubes em divisões profissionais do Estado – União, CAUSB, Usina Furlan e A.E. Internacional.

Tenho muitas saudades desse tempo. Não sou bom de memória para detalhes, mas me lembro da vida escolar no Inocêncio Maia, onde fui alfabetizado. Ao lado tinha a quadra de esportes e ia ver os bons de basquete da cidade jogarem e treinarem – Alvaro, Denis, Bigoto, Zé Boquinha (esse, de vez em quando). Minha avó morava ali pertinho, na rua 13, e meus tios gostavam muito da vida rural, de cavalos. Paulo (Boava) de Carvalho, o único ainda vivo, é testemunha disso. Houve uma época em que ele trabalhava na Romi, e eu garotinho, levava – a pé - marmita para ele no horário da janta pois a dedicada vó Bárbara mandava a comida quentinha. Recebia uns trocos por isso, lógico.

Outro dia me encontrei num café com o amigo contemporâneo Nelson Pacheco, e ele disse que eu era o segundo melhor aluno da classe, o primeiro era o falecido Clóvis Padoveze. Não me recordo disso, realmente. Mas acreditei até com certo orgulho, lógico. Da escola Inocêncio Maia fui para a Escola de Comércio do prof. Dagnoni, onde fiz de forma rápida o chamado preparatório para admissão ao Ginásio. Com a chegada do Curso Ginasial noturno, na cidade, me transferi e voltei a estudar em escola do Estado. Depois fiz o Curso Normal para fugir da matemática no Científico. Ganhei concurso de redação, mas nunca gostei de matemática, matéria das mais importantes em nossa formação, como constatei depois, na carreira em indústria. No curso Normal noturno a gente sofria com a competente prof.a Aris Maria Vicente,  o convívio com poucos colegas homens e muitas mulheres, como a Amarilis, Ana Beltrame, Jussara Fernandes, Vitória Amadio, Cheila Scarlazzari, Eloiza Angolini, Ester Alves, Heloisa Garrido, Magali Mondoni, Maria Ap. Batagin, Cida Picarelli, Isabel Balancin, Izabel Fornazari, Maria Luiza Nogueira, Magali Modenese, Nilce Defavari, Marli Froner, Roberta Boto, Rosemary Caetano, Zoreli Martins, as Veras Camili, Bigotto e Benith, entre outras queridas colegas professorandas...

Todo mundo paparica sua terra natal, normalmente. Mas o povo barbarense sempre foi muito receptivo, amistoso, de fácil relacionamento. Lógico, que hoje, multifacetado pelo adensamento populacional, com a intensa imigração atraída pelo desenvolvimento industrial da região, notadamente de Americana, está um pouco diferente.

Santa Bárbara – embora tendo sido mãe - vivia a reboque da vizinha Americana, toda poderosa com linha tronco ferroviário e um outro vetor de crescimento, a Via Anhanguera. A cidade crescia mais devagar. Desde cedo fui ao trabalho e assim me tornei um atento observador do que acontecia nos anos 60, 70, 80. A cidade foi se transformando, a zona leste se fortalecendo, e um vazio urbano sendo desafio para as administrações públicas que se sucediam. Cheguei a acompanhar de muito perto, num período, a primeira gestão de Romaninho e um mandato do Zé Maria, por circunstância de derivações de minha carreira em RH. Os desafios eram enormes, mas foram sendo superados com muita coragem.

Quem passa atualmente pela avenida Santa Bárbara, que interliga as duas cidades, sente o pulsar forte de SBO, com tantos investimentos havidos no trecho. Fico espantado, nem parece que estou na minha Santa Bárbara, lógico que pelas referências que guardo em memória. E imagino o que seria se o projeto de prolongamento da rodovia dos Bandeirantes, até Cordeirópolis, cortasse a região do Mollon, como se previa. Valeu a luta pela mudança fazendo a importante rodovia contornar a cidade, e não a ´cortar´.

Saúdo a população barbarense pela data. Tantos amigos, parentes, parceiros no trabalho e na vida escolar básica. Muitos já se foram mas ficaram na recordação maior. Muitas lembranças das vilas Bética e Borges, perto do centro, e sempre no meu coração.  Dos rudes gramados em forma de campos de futebol, dos amigos da bola – Laudissi, Baptista, Darci e Cláudio Mantovani, Mondoni, Zelo, Oswaldo Ramos, Laércio, Marcos, Xisto, Niozil, Rubens Matias e tantos outros que me perdoarão a omissão. Da  vizinhança pacífica e solidária que nunca mais tive, como dona Lourdes Ganeo, Adail Ribeiro, Graciani, Iatarola, Assad Salum, Edmur Cunha, Pinesi, Miglioranza, Albino, Ramos, Amaral, Bagarolo, Lauro Martins-Dorothea, d. Tiche Lopes Ribeiro, os Zanatta e outros. Muitas lembranças dos armazéns do Fiori Mella, Vitório Furlan e do Guardini, da padaria do Pinguim, tempos da caderneta e pagamento mensal.

Recordações dos tempos de jornais, de tipografias, da Romi. Da paquera organizada na praça (footing), a missa na Matriz e na de Aparecida, com o Euzébio me cobrando a presença. Do bar do Tatão Cavichiolli para a rotina de lanches e papos com Laércio, Gera Dellapiaza, Betão Furlan, Ari Gonçalves, e nas manhãs de domingo no Bar do Gordo, parada obrigatória para a caipirinha do seu Osvaldo. Dos papos e gozações, conversas construtivas e outras nem tanto, com o Bim, Zé Mondin, Laércio Zancan, Paulo e Mudinho Sachetto, Luiz de Barros, os dois Tupis, Matheus Sapinho, Darci Bueno, Carlão Bueno, Cacau de Carvalho, Lito, Zé Lúcio Pereira, Freitas, Fala, Eca, Bragalda, Toninho da Perfumaria, Ivo, Toninho Barbeiro, Gilão, Machado, Silvio barbeiro... e tanta boa gente boa. 

Hoje a cidade está bonita, ares de modernidade, parques e praças notáveis, atraindo investimentos com naturalidade. Aos 205 anos, com 200 mil habitantes, bem longe do que vi e vivi num cenário de 50, 60 mil pessoas, se tanto. Houve um trabalho sólido e hercúleo de muitos do passado para se chegar a essa posição. Uma época Americana queria assumir os bairros da divisa pois faltava infraestrutura.  Santa Bárbara deu a volta por cima, e hoje sua potencialidade é admitida e elogiada em vários cantos.

E eu aqui, num misto de orgulho e de saudades, e mesmo de saudosismo, recordando alguns fatos históricos dos velhos tempos, e desta maneira enviando também os Parabéns à minha gente da Santa Bárbara d´Oeste querida. Como gravou o radialista Sérgio Silva, outro amante da terra, “eu me recordo da Santa Bárbara mais antiga, tão doce, pequena e tão amiga, embalando seus filhos em seus caminhos. Do jardim com árvores frondosas, trazendo em seu centro uma fonte luminosa....os corações pareciam mais amigos... terra menor, porém catita”.







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