Domingo, às 6 da manhã

 

                                  Domingo, 6 da manhã

Por Celso Gagliardo

Antoine de Saint-Exupéry escreveu que “o essencial é invisível aos olhos. Só se vê bem com o coração”.

O leitor mais atento já saiu no domingo pela cidade, a pé ou de carro, logo pelas seis da manhãzinha? Notou a diferença nos nossos menores ecossistemas?

A calmaria reina. O som é de pássaros, pardais, bem-te-vis que dão o tom do alvorecer.

O ar parece outro: leve, quase tímido, às vezes trazendo uma brisa fresca que sussurra vida. Respira-se melhor. Dá vontade de parar um instante, meditar... orar.

O céu se revela em tons limpos, rasgando nuvens e clareando o azul. Aos poucos, tudo se ilumina. Nos canteiros, flores acenam, e as cores parecem vibrar mais. É como se o domingo trouxesse uma promessa silenciosa: a de que nem tudo está perdido.

Um posto de combustíveis aberto indica o retorno à rotina. Há quem se prepare para um dia de pescaria, para um futebol ou churrasco com amigos, para visitar alguém querido. Na loja de conveniência, um café rápido; outro pega cigarros com o coração apertado diante do aviso de advertência.

Ciclistas deslizam pela SP-304, pedalando contra o vento. Corpos que se negam ao tédio, buscando um sopro de vida. E, nos bairros, luzes piscam preguiçosas em prédios que ainda despertam.

Lá no cemitério, a saudade repousa. É paz aparente, quebrada apenas pelo farfalhar das folhas. O tempo ali parece mais lento, como se não tivesse pressa de passar.

Do outro lado, um senhor beirando os 70 anos conduz sua bicicleta com firmeza. Pedala seguro, orgulhoso, como se dissesse ao mundo: “Ainda posso”. No grupo de senhoras, conversa animada à espera do transporte para o passeio. As malas dão o tom da animação: é dia de domingo.

Ainda bem que tem domingo. Dia de missa, cultos, meditações. Dia de parar e reparar. De sair para ver as cores renascendo. Quando puder, faça isso: olhe no alvorecer. Vai ver que a cidade acorda bonita, mesmo que a maioria ainda durma. Como outros sonhos...


Comentários

Sérgio disse…
Que linda sensibilidade - visualizar e sentir - inspirar e postar - excelente texto amigo Celso.

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