Oh Santa Bárbara querida...
Santa Bárbara querida...
– Celso Gagliardo –
A música do saudoso Sérgio Sárapo traduz o sentimento que nos habita, barbarenses de nascimento ou de coração:
“Oh Santa Bárbara querida, terra onde eu nasci, por ti eu darei minha vida”.
Vivi a cidade em tempos de simplicidade e harmonia. As ruas, de paralelepípedos, guardavam passos tranquilos; poucos tinham carro, e andávamos a pé, reconhecendo rostos, acenando, conversando. As compras se faziam nos armazéns de “secos e molhados”, anotadas nas cadernetas que eram, à época, nosso cartão de crédito.
A economia pulsava nas tecelagens, nas metalúrgicas lideradas pelas Indústrias Romi e nas usinas de açúcar e álcool — Santa Bárbara, Furlan, Cillos, Azanha. O lazer florescia nos clubes, nos bailinhos, nos cinemas Santa Rosa e Santa Bárbara. Aos fins de semana, a praça central se enchia de juventude em seu ritual de passos e olhares — o footing. O futebol tinha cores e paixões com CAUSB, União, Internacional e o Palmeiras da Usina Furlan. E o centro se reunia no Bar do Gordo, onde, após a missa de domingo, amizades se celebravam entre risos e aperitivos: Bim, Mondin, Saquetinho, Tupi Loiro, Tupi, Gera Delapiazza, Laércio Zancan, Lourival, Matheus-Sapinho, Lito e tantos outros.
Era um tempo de conversa fácil e integração natural, de muito riso e pequenas fofocas trocadas em frente às casas ao cair da tarde — sem as tensões que hoje marcam a insegurança das ruas.
A vida nos aproxima e nos dispersa. Partimos em busca de oportunidades, conhecemos outros lugares, mas a raiz permanece. Eu nunca esqueci minha Vila Bética querida, onde nasci à sombra do “Dentão”, primeiro edifício da cidade. Ali, os olhos de criança se encantavam com o “valo” profundo, com seus gramados, campinhos improvisados e a liberdade que só a infância conhece.
Lembro-me da vizinhança — famílias que se entrelaçavam como fios de um mesmo tecido: Iatarola, Amaral, Graciani, Zanatta, Ganeo, Ribeiro, Assad Sallum, Miglioranza, Pinese, Martins, Lopes Ribeiro, Bagarollo, Mantovani, Gomes da Silva-Zelo, Batista, Laudissi, Mondoni, Albino, Matias, Agnese, Furlan, Piovezan, Ramos... Recordo a casa da vó Bárbara, na rua 13, e a escola Prof. Inocêncio Maia, onde tracei minhas primeiras letras.
O povo barbarense, sobretudo o do centro antigo, sempre me pareceu acolhedor, solidário, de fala fácil e coração aberto. Qualidade rara num mundo acelerado, tecnológico e, paradoxalmente, tão solitário.
Vivi de perto os primeiros saltos de desenvolvimento, quando a cidade somava apenas 40 ou 50 mil habitantes. Hoje me pergunto se, no meio do crescimento, a qualidade de vida se preserva inteira. Mas o trem do tempo não se detém: Santa Bárbara d’Oeste se fez moderna, vibrante, com parques, equipamentos culturais e um sistema de água invejável. Cresceu muito sob lideranças como Romano, Zé Maria, Andia, e se consolidou com porte de cidade média, prestes a alcançar 200 mil habitantes — entre o coração do centro antigo e a jovem zona leste, que floresceu sob a influência de Americana.
No próximo dia 4 de dezembro, ao celebrar 207 anos sob o olhar da padroeira Santa Bárbara, nossa cidade se ergue como orgulho de seus filhos. Solo generoso de 271 km², fundado por uma mulher de nome de flor, Margarida, e protegido pelo manto da Santa que lhe dá nome.
E como cantava Sérgio Sárapo, ecoa em nós:
“Levo em meu peito guardado, com toda a satisfação; tu não me sais da lembrança, moras em meu coração.”
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