Pensando sobre a Velhice e o tema do ENEM
Feliz o tema do ENEM no exame de redação deste ano: “O envelhecimento na sociedade brasileira". Nossos jovens precisam refletir sobre isso - e aprender a valorizar o tempo que passa.
Segundo o Censo do IBGE de 2022 o Brasil tem mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, quase 16% da população, um aumento de 56% em relação a 2010. É uma realidade que já impacta a economia, a saúde e a vida cotidiana.
Há menos pessoas em idade produtiva, mais pressão sobre a Previdência e maior demanda por cuidados, especialmente para doenças crônicas. As cidades precisam se adaptar, e os lares também — muitas vezes com o peso recaindo sobre as mulheres da família.
Costuma-se dizer que envelhecer é bom, já que a alternativa é pior. Mas o tempo traz suas marcas. Mesmo quem se cuida sente o corpo cansar e o olhar se voltar mais para dentro. O segredo é estar preparado emocional, física e espiritualmente para essa fase, que pede serenidade.
Cada pessoa tem sua história. Alguns chegam aos 90 com saúde invejável; outros enfrentam limites precoces. Mas o que mais dói, talvez, é não mais se sentir útil. Trabalhar, produzir, contribuir — tudo isso dá sentido à existência. Quando a rotina muda, muitos se percebem esquecidos. Dores físicas e da alma começam a surgir, e a solidão vira sofrimento com as duras notícias de perdas e afastamentos de amigos e parentes de longa data.
Ainda assim, há quem envelheça com leveza. Conheço amigos acima dos 70 que chamo de “bons de velhice”: consertam, cultivam hortas, caminham, leem, estudam, tocam instrumentos, passeiam, pescam, fazem servico de voluntariado social, jogam com amigos. Mantêm o corpo em movimento e a alma em festa.
A fisioterapeuta Paula Ferraz, dedicada também a pacientes geriátricos, diz que o futuro de vivermos em um País de idosos chegou: “Me deparo diariamente com as preocupações e demandas das famílias que por vezes não se deram conta do avançar do tempo dos seus próprios familiares, e que na grande maioria arrastou consigo debilidades e dependências. É preciso conversar a respeito, é preciso olhar com compaixão, é preciso valorizar, incentivar e cuidar dos seus.”
Além de Fisioterapeuta, Paula é diretora da Oficina do Cuidador em Santa Bárbara d’Oeste. Ela e sua equipe de profissionais treinam e preparam os cuidadores formais e familiares para que adquiram conhecimentos, habilidades e cuidem com atenção e afetos — porque gente precisa de gente.
Já o geriatra Dr. Gustavo Schelle resume: “Nem sempre é de remédios e exames que o idoso precisa. É de vida. De sentir-se que ainda importa, ser útil pela sua experiência, ajudando em casa, aconselhando, ensinando ou contando histórias. Enfim, ser ouvido, lembrado. Se ele sente que ainda é parte da vida de alguém o corpo se revigora e a memória se organiza. O cérebro precisa de estímulo e o coração, de afeto.”
O tema do ENEM, que mobilizou quase 4 milhões de jovens, é um convite à empatia e ao planejamento para a vida madura. Que nossa juventude entenda o idoso — e aprenda com ele a viver o tempo com sabedoria. E para o Poder Público a certeza de investimentos contínuos na assistência ao idoso, com centros de acolhimento e convivência, acessibilidade, etc.
Como dizia Mário Quintana, “nascer é uma possibilidade, viver é um risco, envelhecer é um privilégio... A Lua, quando fica velha, todo mundo sabe que vira nova.”
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